“É um sentimento de satisfação em poder estar na linha de frente e cuidar de quem precisa. Só que, ao mesmo tempo, uma sensação de abandono, pois também precisamos de cuidados. Como saber se não estamos com o vírus e contaminando nossos familiares? Muitos casos são assintomáticos”, afirma uma trabalhadora, que prefere não ser identificada por medo de represálias.
No Hospital do Barreiro, já são 21 casos de trabalhadores que testaram positivo – sendo a maioria (16) da área não Covid-19, segundo a própria PBH. A unidade de saúde possui, ao todo, 1.587 profissionais. “É um contato bem próximo, de dividir camas no horário de descanso, contato próximo na hora das refeições na copa. E ninguém foi testado. Não testam como deveria ser, principalmente os da linha de frente do sétimo andar e do CTI que atende pacientes de Covid-19”, alega uma enfermeira.
Procurada, a prefeitura confirma que só testa aqueles profissionais que apresentam algum tipo de sintoma. “O que está de acordo com a Nota Técnica nº 14/2020, da Prefeitura de Belo Horizonte, atualizada em 20 de maio de 2020”, argumenta, por nota (leia na íntegra abaixo). A gestão também afirma que oito profissionais continuam afastados.
‘Ação rápida’
O Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Minas Gerais - SEEMG afirma que a ausência de testagem em massa dos profissionais de saúde não é um problema apenas no Hospital do Barreiro e pretende acionar o Ministério Público do Trabalho e a Justiça em breve.
“Estamos discutindo para entrar com uma ação rápida porque defendemos que tem que ser testado. Até porque esses profissionais transitam em mais de um hospital. O risco maior é para a própria instituição que não testa esse profissional”, ressalta ao BHAZ o presidente da entidade, Anderson Reis.
Para efeito ilustrativo, o secretário-substituto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, afirmou, no dia 14 de maio, que o Brasil já tinha passado dos 30 mil casos confirmados de Covid-19 entre os funcionários da saúde. Naquela data, o número total de infectados no país era de 188 mil – hoje são quase 700 mil.
“Todos os profissionais, principalmente os da linha de frente, deveriam ser testados. Porque estão dentro de um ambiente que tem a doença e ela pode estar em qualquer lugar. Além do risco profissional, você leva também o risco para fora, para sua casa, para as pessoas na rua, para dentro do ônibus”, destaca Joaquim Valdomiro Gomes, diretor-adjunto do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde em Belo Horizonte (SINDEESS).
O representante afirma que o sindicato vai se reunir com a direção do hospital nos próximos dias. Além de apurar a situação da testagem dos profissionais, o órgão quer discutir sobrecarga de trabalho e a segurança do hospital. “Na minha visão, como dirigente sindical e profissional, tem que ter o teste para todos os profissionais dentro do hospital”, reforça.
Denúncia
Além da falta de testes, os funcionários também denunciam negligência com os próprios pacientes da Covid-19. Segundo os profissionais ouvidos pela reportagem, o hospital tem colocado leitos acima da capacidade nos quartos – além de deixar pacientes suspeitos de coronavírus convivendo com outros que já são casos confirmados.
“Num quarto agora vão ficar três pacientes, sendo que antes eram somente dois. Isso significa que, até o resultado sair, ficam juntos pacientes que são suspeitos e pacientes que tem o vírus já. Acontece direto de ter um paciente positivo e outro não positivo, aí só depois que o paciente é remanejado”, relata o funcionário.
Sobre o tema, a PBH afirma que “quando o paciente é suspeito, é feito o isolamento respiratório e cumpridas todas as condutas de proteção, com uso de máscara, cortina de isolamento e grande distância entre os leitos”.
“A denúncia feita pelo veículo não procede. A ampliação de leitos de enfermaria segue as orientações da RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002, do Ministério da Saúde, e Nota Técnica da Anvisa nº 04/2020, atualizada em 08 de maio. As normas determinam a distância entre leitos paralelos de 1 metro, regra que está sendo cumprida”, complementa.
A gestão municipal, no entanto, não comenta sobre o número de pacientes em um quarto nem mesmo se suspeitos dividem quartos com contaminados – já confirmados -, conforme alegam os funcionários.
“Se morrermos, o banco de currículos tem vários outros para cobrir a falta. Precisamos ser respeitados como profissional e não como uma moeda fácil de troca”, conclui uma trabalhadora.
Nota da PBH na íntegra
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde informa que:
. Como é feita a testagem de funcionários do hospital? Em especial, como é feita para aqueles que lidam diretamente com pacientes da Covid-19? Segundo a denúncia, nem mesmo os funcionários que tiveram contato direto com funcionários confirmados com coronavírus estão sendo testados. Como está sendo realizado esse procedimento?
Todos os trabalhadores do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro (HMDCC) que apresentam sintomas gripais, independentemente de atuarem em alas Covid-19 ou não, são testados para a doença, o que está de acordo com a Nota Técnica nº 14/2020, da Prefeitura de Belo Horizonte, atualizada em 20 de maio de 2020.
. Quantos trabalhadores do hospital já foram confirmados com coronavírus? Quais deles eram da linha de frente contra a Covid-19?
Desde o início da pandemia, o HMDCC registrou 21 casos positivos de Covid-19 entre os seus trabalhadores, sendo 5 de área Covid-19 e 16 de área não Covid-19. Desse total de 21 casos positivos, 8 ainda estão afastados. O restante retornou ao trabalho por não apresentar mais sintomas da doença e finalizar período de isolamento. O Hospital conta com 1.587 trabalhadores.
. A denúncia também afirma que o hospital tem colocado três leitos em quartos que deveriam ter no máximo dois. Além disso, pacientes que seriam somente casos suspeitos estão ficando nos mesmos quartos que pacientes confirmados. Como é feita essa separação?
Todos os pacientes positivos para Covid-19 ficam em alas isoladas no Hospital, sendo um andar inteiro dedicado somente a isso. Quando o paciente é suspeito, é feito o isolamento respiratório e cumpridas todas as condutas de proteção, com uso de máscara, cortina de isolamento e grande distância entre os leitos.
A denúncia feita pelo veículo não procede. A ampliação de leitos de enfermaria segue as orientações da RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002, do Ministério da Saúde, e Nota Técnica da Anvisa nº 04/2020, atualizada em 08 de maio. As normas determinam a distância entre leitos paralelos de 1 metro, regra que está sendo cumprida”.
Fonte: BHAZ